terça-feira, 13 de outubro de 2020
quinta-feira, 1 de outubro de 2020
quarta-feira, 30 de setembro de 2020
sábado, 12 de setembro de 2020
Obscuros
Quando se joga o holofote da
verdade sobre a face do herói obscuro ,o resultado é aterrador.
Obscuros
Eles estão em evidência com o
surgimento da pandemia...até participam de
pesquisas de vacina .A mídia mostra um dia a dia conveniente e convincente. Rotina
de comprometimento e zelo pela vida do próximo. Mas quem são seus
próximos?...Eles se pavoneiam diante das câmeras sob o denso véu da humildade
com mescla de altruismo sacrificial...
A realidade não permitida às
câmeras diz que são pessoas comuns em uma profissão com igual dignidade em
relação às demais, mesmo que por muita vez exercida por seres desprovidos de
qualquer dignidade e com ignorância, se não aversão ao altruismo...pessoas
capazes de humilhar ,perseguir ,isolar e ameaçar sem trégua a quem não lhes sirva
aos objetivos sórdidos ou não entre nos moldes da subserviência medieval
imposta; de modo que a vítima pode chegar para mais um dia de labuta e ser
recebida por um riso de mofa acompanhando de "você não trabalha mais
aqui"...
E que não persista a vítima em
oposição, sob a pena de passar mais tempo em fórum ou no Conselho profissional a
responder incessantes e abusivas sindicâncias punitivas com base em provas
forjadas e falsas testemunhas ,do que no exercício laboral...
Que não tenha a vítima uma
conquista pessoal evidente ou uma atividade extra profissional que contrarie a
realidade criada por esses "heróis "no sentido de limitação
intelectual de quem exerce nível técnico e /ou tem essência quilombola...
Não tenha portanto
conhecimento acima do que exige o cargo ou o pão de cada dia lhe custará mais
caro inexoravelmente.
Jamais evidencie a paz e o bem
estar ante os aclamados pela mídia como "heróis da linha de frente"
,a menos que tenha um cargo privilegiado ou queira viver o pior inferno de
todos os tempos em sua vida profissional.
Em tempo de inversão de
valores, principalmente nos hospitais públicos onde os obscuros matam por indução ao suicídio, pela impunidade do crime de assédio moral
entre outros e a única saída parece ser a justiça paralela, fica mais patente do
que sempre ,a necessidade da volta do Herói: Jesus.
sábado, 29 de agosto de 2020
Roleta Russa (A Nova Realidade)
Mês Julho. Inverno rigoroso e as previsões para o
resto da semana nada auspiciosas.
O som estridente do
despertador desconhece compaixão. Ela o desliga e por um instante ainda se
desliga da realidade. Cinco ...dez minutos e em pouco tempo se vê em ruas desertas e gélidas a caminho do
hospital onde fora admitida para a equipe de enfermagem há quase 30 anos.
A enfermagem não é um
sacerdócio e menos ainda um meretrício. É mais um trabalho digno entre tantos
outros ,mas com frequentes ataques da mídia a enxovalhar a reputação de seus
profissionais com imagens e ideias deturpadas de mulheres exiguamente vestidas
e de atitudes dignas de reproche.
Há que se afirmar ainda
que não há sombra de romantismo , coisa que um ou outro espectador possa cogitar .Há antes o drama e atualmente o
revezar constante entre o drama e a tragédia com o advento da pandemia de covid
19,o que mudou ainda que temporariamente o olhar sobre o profissional da saúde,
que passou de “peão” á “linha de frente” do combate à peste que parece disposta
a dizimar um terço da humanidade... apocalipticamente.
Ajustou a máscara de
tecido à face e seguiu em seu andar apressado até se juntar aos outros tantos
de faces cobertas e olhares oscilantes entre perdidos e temerosos .Medo é
cautela. E junto à cobertura da face e o frasquinho de álcool em gel para as
mãos, é tudo o que se tem para hoje.
As pesquisas de vacina
caminham com vagar e a morte avança em trote largo. O governante do país
debocha de tudo e de todos :”E daí?”...”Todo mundo vai morrer um dia”...”Querem
que eu faça o quê?”...
Ela chega ao destino. E agradece à Deus por ter chegado .O dedo de “iceberg ”toca o ponto eletrônico e ela segue adiante qual rês indo para o matadouro. Agradece à Deus por ter um emprego .Sobe os degraus como quem leva tornozeleiras pesando toneladas. Chega ao balcão de informações onde conseguirá dar continuidade ao trabalho graças à experiência de longos anos no setor e por ter armazenado no celular informações complementares, pois todo o seu material de trabalho fora retirado e até mesmo o telefone fora colocado em uma sala de entulhos para que ela não tivesse acesso...ele continuava a tocar mas não havia quem o atendesse.
Até a cadeira do balcão
era frequentemente retirada pela supervisora do setor para garantir que ela se
sentisse desconfortável e talvez não voltasse mais. Tais achaques passaram a
ocorrer quando ela não aceitou a transferência feita de forma repentina e sem
motivos plausíveis ,para um setor onde não poderia atuar por motivo de
restrições médicas conforme justificado com relatórios e laudo médico .Os
atuais gestores não aceitam ser contrariados .O assédio moral é prática
conhecida e arraigada no serviço público .Há vítimas que chegam ao suicídio por
não suportar tanta pressão e humilhação .E não são raros os casos ,infelizmente...
Por volta das doze
horas ,ela descia as escadas rumo ao refeitório quando deparou com mais uma
manifestação de aplausos na saída de um carro fúnebre. Mais um companheiro de jornada abatido em sua
labuta pelo pão.
Respirou fundo, fez uma
prece e retornou. A refeição não lhe desceria.
Agradeceu à Deus pela
vida.
O retorno ao lar com a
sensação de perda mesclada ao alívio é realidade de muitos.
Colegas se
infectando ...outros morrendo...
O presidente
debochando.
Os supervisores
achacando.
A vida girando ... não
mais como um carrossel: roleta russa.
Folha que o Vento Leva
Ele prestou serviço no Instituto por 29 anos. Aí
veio a peste. A tal covid 19.Ele se manteve firme e forte ,cumprindo sua
jornada e tomando as devidas precauções, utilizando o que era oferecido pela
empresa. Havia falta de EPI ( Equipamento de Proteção Individual) adequado,
sim. O que não havia era permissão para falar .Haviam pessoas, companheiros
seus, se infectando e adoecendo...e o silêncio tétrico e pesado no ar... e mais
pessoas se infectando. Ele tinha que continuar ,Havia seu compromisso .E contas
para pagar .O tempo lhe daria aposentadoria; a empresa não. Agora nem férias
poderiam tirar.
Clareliz ,sua companheira de trincheira, fora
atingida pela peste .Dona de casa ,servidora pública, mãe e avó dedicada. Trabalhou
mesmo após surgirem os primeiros sintomas, pois não tinha autorização para o
afastamento. Com o agravamento dos sintomas, foi feito o teste .A confirmação e
a internação foram rápidas .Cerca de 15 dias na UTI onde por diversas vezes
havia trabalhado. Aplausos hipócritas na saída do carro fúnebre.
-“Não tem como afirmar que foi aqui que ela pegou o
vírus”.
Observação infeliz de quem pouco se importa e menos
ainda se sensibiliza.
-“Ela já estava realocada em funções administrativas
atendendo indiretamente os pacientes não covid...mas não se pode ficar vigiando
as pessoa o tempo todo”
A culpa é dela então?...teria saído de suas funções
para se expor e se contaminar?
Oh, relato insensato e insensível.
Ele ouviu essas e outras “justificativas” de quem
pouco se importa com a vida, a saúde e/ou desgraça alheia.
Desânimo, sensação de impotência, terror camuflado
em coragem, força forçada por falta de opção e a inevitável pergunta que não
quer calar; serei eu o próximo número da estatística?
Veio o dia atípico de sensações atípicas, ou típicas
de quem fora lambido por Thanatus.
Então buscou o serviço de saúde mais próximo e fora
afastado pelos 14 dias de praxe, contudo fora contatado por seus supervisores e
advertido do prejuízo que teria em seus vencimentos ,ainda que justificado por
atestado médico.
Seu retorno fora marcado de incompreensões, ameaças e observações ofensivas; ”Não deveria estar
aqui. Está contaminado .Tinha que ficar em sua casa.”
Posto isso, ainda exigiam outro atestado ,uma vez
que o que havia trazido ,fora “perdido” pelo serviço de recursos humanos.
Teria retomado suas atividades; se não o fez, foi
por ter sido rapidamente enfraquecido pela doença e logo internado na UTI onde
por longos anos prestara serviço.
Contudo sua estada não chegara à 30 dias.
Tivera algum tempo para rememorar Clareliz. Também
Inezita e Júlio lhe vieram à superfície da mente. Foram ambos atingidos. Júlio
optou por se internar em outro serviço, pois tinha convênio e achou por bem deixar
a vaga à alguém que mais necessitasse
Inezita não tivera opção e fora internada nessa
mesma UTI, e como Clareliz, fora vencida pela peste. Seria ele o terceiro
guerreiro a ser engolido pela UTI dessa instituição...não era uma pergunta.
Lá fora, torcidas contra e à favor de seu
restabelecimento...
Que mundo é esse?
Com que tipo de ser humano trabalhamos?
Júlio retornara depois de 30 dias de torcidas ,
orações e incertezas em uma UTI...e fora aplaudido por seus companheiros.
Wellington também fora aplaudido por seus
companheiros na saída do hospital .Mas não pôde agradecer...estava dentro de um
caixão.